Conheça a trajetória vencedora no ciclismo da AFR Evelyn Quilles Moura
[datar]Histórias de superação são cativantes porque mostram que os obstáculos não devem dar lugar ao desânimo. Além disso, nos estimulam a superar nossas dificuldades – e a trajetória da colega Evelyn Quilles Moura é um exemplo disso. A AFR da DRT-13 é ciclista e participou recentemente de duas competições com ótimos resultados. Na Gran Fondo New York, em 20 de maio, obteve a 15ª colocação no ranking geral feminino, e o lugar mais alto do pódio do 3h Bike Series na sua categoria, que aconteceu no domingo, 03/06, no autódromo de Interlagos, em São Paulo.
Essas provas de ciclismo são de endurance, ou longas duração e distância, e com altimetria elevada (provas de montanha). Põe longa nisso: a GFNY, como é conhecida a Gran Fondo, tem 160 km e foi completada pela colega depois de pedalar por 5h50min, e a da Bike Series de Interlagos, em três horas de pedal (a distância percorrida chegou a quase 100 km no total). “O ciclismo é o esporte mais incrível que eu já pratiquei na vida”, diz Evelyn, estampando um sorriso largo, feliz pelos resultados conquistados a duros treinamentos – e foi uma notícia ruim que a fez mudar seus planos e ter no ciclismo sua paixão.
Apaixonada por esportes – ela já havia praticado natação, futsal e até participou de campeonato paulista de saltos ornamentais – em 2009 ela começou a correr e sentiu dores nos joelhos. Depois de exames, foi diagnosticada uma lesão degenerativa de grau 4 no joelho direito e de grau 3 no esquerdo. O ortopedista disse que, se continuasse correndo, a chance de piora na lesão era alta. “Eu poderia continuar, mas deveria tomar muito cuidado porque a lesão era para sempre. Foi quando optei por parar de correr”.
O que poderia ser um banho de água fria para quem adora se movimentar transformou-se em uma oportunidade. “O Márcio [Tanaka, marido de Evelyn, também AFR], uma pessoa incrível, me falou ‘poxa, por que você não começa a pedalar? O ciclismo machuca muito menos o joelho’”. Mas os treinos eram às 5h na USP, tinha que acordar às 4h da manhã, e eu morava na zona leste. Eu achava que não seria possível, mas eu acabei topando essa loucura”.
Isso foi em 2010 e, embora fosse longe de sua casa, ela manteve a rotina de pedalar na USP. Na época, a equipe de treino era de triatlo (esporte que reúne corrida, ciclismo e natação), e o treinamento com a bicicleta era bem diferente do ciclismo como esporte. Ela participou pedalando de algumas competições, como o Triathlon Internacional de Santos e o Troféu Brasil de Triathlon.
Mas seu percurso na bicicleta mudou. Em 2016 ela estava inscrita no L’Etape Brasil, uma prova organizada nos mesmos moldes do Le Tour de France, a mais tradicional prova de ciclismo de estrada do mundo, e mudou de equipe de pedal. Foi para a Vélo48, onde está até hoje e na qual tem treinamento inteiramente focado no ciclismo enquanto esporte. “É uma equipe incrível, que ajuda em absolutamente tudo o que você possa imaginar. Eu evoluí muito”.
Ela também passou a contar com auxílio de nutricionista, para equilibrar sua nutrição, além de preparador físico e fisioterapeutas, para melhorar ainda mais sua performance. Tudo isso contribuiu – além, é claro, da sua determinação – para alcançar esses excelentes resultados. “Descanso, alimentação decente, nutrição voltada para o esporte e muito treino. Eu treino de terça a quinta, e começo às 5h. Aos sábados, eu pedalo sempre em estrada, em percursos acima de 100 km. Basicamente eu pedalo mais de 1000 km por mês na preparação para essas provas”, conta.
Essa preparação digna de atleta profissional deu seus frutos – foi em janeiro deste ano que ela começou a se preparar para a Gran Fondo New York. E a participação foi para lá de especial. “Na largada eu já estava chorando de emoção. É muito contagiante. Os americanos torcem demais! Em 160 km de prova, nós passamos por algumas cidades pequenas, então os moradores ficavam do lado de fora das casas torcendo, ‘go girl, go girl, you’re strong, keep going’ [vá, garota! Você é forte! Continue!], era algo surreal. Em alguns lugares, eles montaram mesinhas e colocaram copos com Gatorade para tentar nos dar. Famílias e mais famílias nas portas de suas casas nos incentivando, torcendo, estimulando, pelo percurso todo. Mais para o final, a organização da prova colocou umas frases de incentivo nas árvores. Nossa! Ali já escorria lágrima, porque era enorme o esforço que a gente estava fazendo, foram quase seis horas de prova”, conta, emocionada.
O melhor estava por vir. Pouco antes de terminar a prova, Evelyn ouviu de alguém que ela era a 20ª entre as mulheres – são mais de cinco mil atletas do mundo todo. “Eu não estava acreditando. Fui fazendo muita força, mais força ainda naquele finalzinho e cruzei a linha de chegada chorando também. Chorei muito, meu corpo tremia bastante por causa do esforço, mas também tremia de alegria, daquela sensação de conquista, de objetivo atingido. E no fim eu fiquei em 15ª, não em 20ª. Aquilo me motivou demais. Foi incrível, uma das melhores experiências da minha vida, sem dúvida”. Além do 15º lugar geral, ela ficou em 6º na categoria de 18 a 39 anos.
De volta ao Brasil, ela emendou outra competição: a Bike Series de Interlagos. “Me inscrevi de última hora, mas eu já estava preparada por causa do Gran Fondo, e eu não parei de pedalar. Fiquei uma semana parada para o corpo dar uma descansada, e já voltei a treinar. Fiz a prova no domingo, fui super bem, 9ª no geral feminino, 1ª na minha categoria [35-39 anos]”.
Toda sua dedicação e empenho no ciclismo recebe um apoio mais do que especial: do marido Marcio Tanaka. Ele participou com ela da Gran Fondo New York e da Bike Series. “Apesar de ele ser triatleta, ele estava lá comigo. O projeto L’Etape [em 2016] eu precisei muito fazer para ressignificar algumas dificuldades que eu tinha passado na minha vida em 2015, então ele estava lá do lado, me incentivou demais, foi mais que uma prova, foi um projeto familiar. No Gran Fondo ele estava lá do meu lado para eu poder fazer uma prova maravilhosa, excelente, como eu fiz. Eu agradeço muito ao Ma, ele é parte muito importante em tudo isso”, afirma.
Para Evelyn, a agenda de provas não acabou. Sua agenda de pedal ainda contempla a etapa brasileira da Gran Fondo NewYork, que será em 6 de agosto, no Rio de Janeiro, também com 160km, e a L’Etape Brasil 2017, com mais de 110km de alta montanha e que ocorrerá, entre 22 e 24 de setembro, em Cunha (SP). “Eu continuo pedalando, não podemos parar!”, encerra.